As Nove Camadas da Segurança: Uma Abordagem Abrangente para a Proteção na Segurança Privada
- Gilmo França
- 10 de jul.
- 6 min de leitura
A segurança é um universo complexo, e pensar em sua proteção de forma eficaz exige uma visão ampla e estratégica. Na segurança privada, a metodologia das Nove Camadas da Segurança oferece uma estrutura abrangente para garantir a proteção de pessoas e patrimônio. Desenvolvida e aperfeiçoada com base em anos de experiência e insights de órgãos de inteligência e academia, essa abordagem se torna essencial, especialmente em setores como o agronegócio.
Os Pilares Iniciais: ABIN, Polícia Federal e a Segurança Orgânica Clássica
As quatro primeiras camadas da segurança, fundamentais para uma base sólida, foram inicialmente concebidas por órgãos de inteligência brasileiros, como a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e a Polícia Federal, ligados ao Ministério da Defesa e à Presidência da República. Elas formam o cerne da segurança orgânica clássica:
Pessoal: Esta camada é ampla e abrangente, focada em todos os aspectos relacionados ao treinamento, reciclagem e capacitação do capital humano. Isso inclui não apenas funcionários, mas também proprietários, parceiros e qualquer pessoa envolvida na operação. O objetivo é qualificar e preparar o ser humano para identificar e agir frente aos riscos.
Informática (e Telemática): De forma simplificada, este campo abrange os aspectos ligados à telemática, incluindo as radiotelefonias. No contexto da segurança privada, sobretudo no agronegócio, a dependência de sinais de internet e rádio é imensa. Assim, a proteção desses equipamentos e serviços de conectividade é crucial. Isso envolve não só a segurança de senhas e acessos aos terminais, mas também a proteção das redes de transmissão, torres, modems e demais equipamentos de recepção e envio de sinais.
Documental: Com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), a proteção documental ganhou imensa importância no mercado privado. Vazamentos de informações podem resultar em multas milionárias. A segurança assume o papel de guardiã de documentos sensíveis da empresa e de seus clientes. Uma lista de clientes vazada ou uma estratégia empresarial exposta pode causar prejuízos incalculáveis. Um exemplo claro no agronegócio é a nota fiscal de compra de defensivos agrícolas e fertilizantes de uma fazenda, uma informação que deve ser guardada a sete chaves para evitar que criminosos a utilizem em ações.
Infraestrutura: Fechando este primeiro bloco, a infraestrutura, originalmente tratada como "instalações" no meio militar, teve seu conceito ampliado por intervenções de especialistas ligados à engenharia civil, como os da 9Walls. O termo agora abrange toda a parte física que protege o estabelecimento. Desde muros e cercanias (rígidas ou móveis), até ofendículos como concertinas, cercas elétricas, portões, motores e barreiras. No agronegócio, elementos como valas ou aceiros também são considerados parte crucial da infraestrutura de segurança.
A Expansão Acadêmica: O Foco nas Operações
O quinto elemento da segurança surgiu de ambientes acadêmicos, especialmente das regiões Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo). Nesses círculos, foi considerado essencial avaliar os aspectos voltados para as operações dentro do plano de segurança. O professor Marco Aurélio Chaves Cepik foi um defensor dessa ideia, inicialmente aplicada às forças policiais públicas.
No entanto, em um ambiente de segurança privada, o entendimento é que este campo deve observar as particularidades que cada empresa comporta. Cada negócio é único, com diferenças de cultura, localização, vizinhança, e até mesmo na dinâmica entre proprietários e funcionários. São tantas variáveis que tornam cada empreendimento particular. Esta camada abrange e contempla todas essas particularidades, encaixando-as de maneira útil dentro da segurança.
Um exemplo prático no agronegócio ilustra isso: uma fazenda de grãos em Goiás, no Centro-Oeste, pode ter um problema operacional ligado ao controle de pragas como o javali. Contudo, uma filial da mesma fazenda em Rondônia, no Norte do país, pode enfrentar desafios com búfalos selvagens. A segurança, em seu plano orgânico (como o PGSSMATR – Programa de Gestão de Segurança Saúde Meio Ambiente do Trabalho Rural no agronegócio), deve abordar e considerar essas particularidades em ambas as fazendas.
A Contribuição da 9Walls: Prevenção, Meio Ambiente, Compliance e Catástrofe
As últimas quatro camadas foram incorporadas ao plano de segurança orgânica por meio da contribuição do Professor Gilmo França, fechando o ciclo das Nove Camadas, daí o nome da empresa 9Walls (Nove Muros).
Prevenção de Acidentes: Esta camada, inspirada na atuação do professor Gilmo França no Corpo de Bombeiros Militar de Brasília, parte da observação de que a maioria dos acidentes tem como plano de fundo a falha humana (inclusive a falta de manutenção, vista como uma falha humana qualificada). Combatendo a falha humana, diminuem-se os riscos. É impossível pensar em um plano de segurança orgânico sem este elemento crucial. Além disso, a prevenção de acidentes na segurança privada poupa gastos significativos para o proprietário e cliente, e está alinhada ao protocolo EHS (Environment, Health, and Safety) – Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho – que visa um ambiente de trabalho seguro e sustentável, eliminando multas trabalhistas. Mais do que isso, ela abrange a proteção de trabalhadores, proprietários, clientes, animais e bens próprios ou de terceiros ligados à empresa.
Meio Ambiente: Em pleno século 21, é inviável pensar em segurança sem considerar os aspectos ambientais. Empresas estão suscetíveis a deslizes que podem gerar multas ambientais pesadas. A equipe de segurança, em suas rondas diárias, deve ter conhecimento sobre questões ambientais para alertar o CEO sobre possíveis danos e orientar quem está causando-os. Além disso, é essencial qualificar o pessoal de segurança para que suas próprias ações não causem infrações ambientais. Um exemplo no agronegócio é a caça de javalis (espécie invasora): a segurança deve fazê-lo sem empregar meios cruéis, evitando maus-tratos. Além disso, devem saber diferenciar javalis de catetos ou caititus (fauna brasileira protegida), cuja perturbação caracteriza crime ambiental. Questões como uso de defensivos agrícolas, erosão, desmatamento e queimadas também podem ser identificadas e prevenidas pela segurança na linha de frente da fazenda.
Compliance (Governança): Esta camada se relaciona com a governança, que é observar os preceitos legais e agir com lisura e moralidade, conforme um código de ética da empresa. A não observância desses aspectos pode destruir uma empresa de dentro para fora. Na segurança privada, esta camada engloba também investigações que servem à proteção do empresário, sobretudo em transações com órgãos públicos ou envolvendo dinheiro (mesmo de condomínios, cooperativas, etc.). Fraudes podem ocorrer em diversas etapas da fazenda, desde o plantio, uso de insumos, até a pesagem e classificação de grãos. Tais problemas, muitas vezes trazidos pelo crime organizado, podem atingir os funcionários e todo o negócio. Esta camada, juntamente com a anterior (Meio Ambiente), está abrangida no protocolo ESG (Ambiental, Social e Governança), que promove práticas corporativas éticas e sustentáveis. A segurança atua como ferramenta essencial na vigilância e prevenção de perdas por falta de observância a esses preceitos, sem assumir as diretrizes ambientais exclusivas da empresa.
Terrorismo / Catástrofe: A nona camada aborda o terrorismo e as catástrofes. Embora o combate direto ao terrorismo seja responsabilidade do Estado, os efeitos de um ataque terrorista – que frequentemente atingem interesses privados e causam perdas financeiras massivas – justificam a inclusão dessa camada na segurança privada. Assemelhando-se às catástrofes, esses eventos causam grande impacto negativo em estabelecimentos privados, resultando em perda de clientes, dinheiro e, em última instância, na falência. A segurança, por estar na vigilância diária do patrimônio, deve estar atenta a potenciais públicos vulneráveis e agressores, o que exige treinamento específico para evitar discriminação ou xenofobia.
No agronegócio, a pergunta é inevitável: "Existe terrorismo voltado para fazendas?". A resposta é sim. Quando uma plantação madura pega fogo, se não for um ato humano voluntário (assemelhado ao terrorismo), será por elementos espontâneos da natureza (combustão espontânea, reflexo do sol). Para o efeito do dano e para o combate e prevenção, seja a fonte terrorista ou catastrófica, o produtor rural sofrerá o mesmo impacto. O plano de segurança orgânica deve prever e combater esses eventos, levando em conta as possíveis fontes causadoras do dano e utilizando meios eficazes e inteligentes, com boa técnica de segurança, para fazer frente a esse mal que também assola as fazendas.
Conclusão: Uma Visão Moderna e Abrangente da Segurança
Até o presente momento, a metodologia das Nove Camadas da Segurança representa um dos pensamentos mais modernos e abrangentes na área de segurança privada. Essa introdução básica demonstra a eficiência e a necessidade de uma abordagem integrada para proteger o patrimônio e as pessoas em qualquer cenário, especialmente em um ambiente tão dinâmico quanto o agronegócio.
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